Nasci ... e me criei em Piquete, onde a tranquilidade reina sempre. Desde que nasci, quase 50 anos, essa cidade também quase passou por mudanças. O lugar continua pacato, aconchegante, muitas casas construídas no morro e, no morro também fica o cemitério. Este lugar, sim, passou por profundas e significativas mudanças.
Antigamente, ainda criança, me recordo que minha mãe e minha tia - também madrinha de batismo - me levava para " visitar ", aos domingos, os parentes falecidos. Subíamos sem pressa o tortuoso caminho. À medida que andávamos, os túmulos iam rareando, modestos e espalhados, sem nenhuma suntuosidade. No meio do caminho, todo de terra, às vezes coberto por um mato rasteiro, a voz era a única nota viva na quietude do lugar.
Minha tia parecia orgulhar-se quando dizia: "Conheço bem muita gente que está enterrada aqui"!
Após um breve silêncio, aproximava-se mais do túmulo e lia nomes, datas de nascimento e morte. Nesse instante, juro que não me zangava e nem tinha pressa ... interessantes histórias eram contadas. Às vezes, eu mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com foto de criança. Minha tia franzia a sobrancelha para ler a lápide e como num lamento triste, murmurava com um ligeiro tremor na voz " coitadinha"!, " coitadinha"! Tinha o choro fácil na garganta.... Penso agora que toda a beleza do passeio estava na memória, no registro daquele que nasce, vive, morre e deixa sua história atravessar o mundo e abrigar em desconhecido lar.
Frequentemente somos surpreendidos por fatos que alteram a imagem que fazemos das situações vividas. E diante dos túmulos de minha mãe e de minha tia, nas raras "visitas", penso no abandono das histórias, no silêncio absoluto na leitura das lápides. Ausência de uma criança que se deixa conduzir ...
P.S. Minha mãe faleceu em abril/1996
P.S. Minha tia faleceu em fevereiro/ 2010
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