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segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Canto do Galo





             Inconscientemente,  a casa rosa, única de alvenaria,  jamais seria esquecida por aquela menina que à sua  maneira brincava naquele chão de terra vermelha, varrido todas manhãs com vassoura de "mato", que sua avó amarrava com cipó. Havia naquele quintal uma casinha de pau-a-pique tão limpinha e coberta de sapé, com um fogão à lenha que aquecia tanto a alma quanto as panelas de ferro.
           Madrugadeira, sua avó dizia que acordava com o canto do galo. Em seguida, ia pegar água na bica pra fazer o café da manhã. Enchia as garrafas, arrumava as marmitas e ajeitava tudo no "emborná".
           O destino do casal era a roça, acompanhado pelos vira-latas "Neguinho" e "Vinagre" que estavam sempre deitados no degrau da casa rosa.
          Quando o dia chegava ao fim, a noite trazia a magia com a luz escassa e amarelada da lamparina, o pisca-pisca dos vaga-lumes e o coaxar ininterrupto dos sapos. Aquele quintal era cheio de vida, de sons e de cores que insistem em minha memória.

Laços de antepassados



Com a mudança de um novo vizinho em frente à minha casa veio à tona lembranças tão distantes, que jamais ousaria recordá-las não fosse a interminável cantoria desse galo que pertence, é claro, ao novo vizinho.
A casa era rosa, parecia imensa, única de alvenaria naquele bairro. Uma menina corria alegremente naquele chão de terra vermelha, enquanto seu avô varria as folhas e miúdas flores caídas no degrau da casa. Em seguida, ele sentava nesse mesmo degrau, tirava do bolso um canivete, desenrolava um lenço malcheiroso, pegava o fumo de rolo e passava horas e horas cortando bem fininho aquele pedaço de fumo.
Sua  avó chegava de mansinho, trazendo na caneca de alumínio, o café que acabara de passar no coador de pano. " Zé, cadê a palha? '' Sem falar nada, retirava de uma lata enferrujada dois pedaços de palha bem cortados e entregava a ela, que enrolava o fumo e fazia os cigarros. Quase sem diálogo, o casal acendia os ''paeiros ",  a menina parava de correr, sentava e  rabiscava o chão.
Silêncio. Ausência. Abandono.
Ah!  ...o  galo!? Que importa?



Rosana Silva

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Efeitos da pregação de Francisco na rede social

'' Não trago ouro nem prata, mas lhes trago o que de mais valioso me foi dado: Jesus Cristo."    Papa Francisco


O trigo do Evangelho é a palavra de Deus; os espinhos, as pedras, os caminhos e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos estados do coração do homem. O Papa Francisco semeou o trigo em sua passagem em nosso Vale do Paraíba, que é a palavra de Deus.
O pontífice lançou a rede, mas não aquela dos apóstolos pescadores, ( Mt. 4,19). Refez Francisco a sua rede: do fio e do nó de ações rápidas, claras, distintas e... modernas! A rede social que também  havia de pescar homens!





" Se Cristo bota fé nos jovens, o Papa Francisco aposta nas redes sociais para levar a Palavra de Deus à juventude. Desde que assumiu o papado, o pontífice se tornou uma representação de mudanças e modernidade à frente da Igreja. E um de seus maiores aliados nessa missão de cativar novos e antigos cristãos é, justamente, o uso bastante frequente da internet e redes sociais."http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/07/papa-francisco-bota-fe-nos-jovens-e-nas-redes-sociais.html


terça-feira, 23 de julho de 2013

Reflexões sobre as formas de conhecermos novos lugares




www.restaurantevernissage.blogspot.com



Em suas idas e vindas, você trouxe verdadeiras reflexões sobre as formas de conhecer novos lugares. Suas viagens pelo Brasil, Alemanha, Chile, Estados Unidos revelam através
de seus registros ( imagens, vídeos e e-mails) que podemos viver grandes transformações na experiência de se viajar. Fica evidente seus sentimentos mais profundos com o passar do tempo e da distância.
Não por acaso, você é uma viajante que busca conhecer gente e lugares, desenvolvendo com eles uma relação de afeto, encanto e algumas vezes "compaixão."
Essas viagens, é bom ressaltar, não pertencem somente a você, elas são formas de meditação, de interação entre o passado e o futuro. São relatos autobiográficos, são crônicas de viagens, são poemas escritos nas chorosas despedidas, com lágrimas que continuam a ser derramadas, mesmo quando o avião já se encontra muito distante.
Mas, a diferença que você aponta é tão profunda quanto seus registros: trata-se da existência de diferentes formas de viver, nem sempre alegre, porém intensa,  de estar mais aberto para se encontrar com outras pessoas, de comprimir-se na multidão, de acostumar-se com as horas perdidas nas mudanças de fuso horário, na observação dos caminhos visitados, nas fadigadas - ou não - noites mal dormidas, na busca pelo alimento que sacia a fome, mas não a saudade, no vocabulário limitado ou com notável fluidez, na contagem dos dias e, na ansiedade, fruto da pressa, pelo ponto de chegada!
Entretanto, você traz em suas malas, além de suas compras, a recompensa mais preciosa - o autoconhecimento. É ele que permite encontros profundos, mesmo que fugazes, entre pessoas que não se conheciam. Unem-se, assim, uma forma de se relacionar com o tempo, lugares, coisas e pessoas.

Dedico essa crônica a uma viajante especial,

Com carinho,


 Rosana Silva

Casamento - Adélia Prado






Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.

domingo, 14 de julho de 2013

A Morte - Pablo Neruda


" Quero estar na minha morte com os pobres que não tiveram tempo de estudá- la, enquanto os espancavam os que têm o céu dividido e arrumado".  Canto Geral, Neruda, Pablo.





sábado, 6 de julho de 2013

A indesejada visita


   Tenho quase  cinquenta anos. Esse envelhecimento foi rápido.Tão rápido que posso sentir na pele  a aspereza do tempo. Então, decidi escrever, anotar alguns fatos para recordar quando a memória não mais permitir ou para criar laços com a escrita. Decisão," resolução tomada após julgamento; livre escolha; opção", segundo o dicionário "Houaiss". Decidi muito cedo quase tudo em minha vida." Trabalhar" por exemplo, tinha quase dez anos e um corpo tão franzino, que achei que não suportaria. Suportei. Este e tantos outros trabalhos que viriam pela frente!
Também suportei por três vezes a indesejada visita, na sala da antiga casa, levar pra cobrir de terra  e esquecimento: o irmão, a mãe e o pai.                                                                                                                              Meu sofrimento extravasou o tempo..

Afastei as pedras do caminho e, me fiz cheia de encanto pela vida e pelos mistérios de Deus!