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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Hai-Kai - A menina Laís

O Hai-Kai é um poema breve, de origem japonesa, frequentemente irônico.




A menina  Laís
É uma boneca
Com vida.

A menina  Laís
Escondida da luz
Nasceu pra brilhar!

A menina  Laís
Guardada na bolsa
Da mãe Canguru!

A menina  Laís
Escapou por um triz
E me faz tão feliz!

A menina  Laís
Conquistou dois amores:
Amadeu e o mar!


Feliz aniversário! Vovó (poeta) te ama do tamanho do ... infinito!!!
31/08/2013

Encontro com o essencial






Dentre vestes e disfarces ignoramos o essencial. Aparentemente insignificantes, as coisas necessárias vão se afastando da gente, falta  atenção, para ver o que realmente importa.
Num tempo em que a pressa era inimiga, tinha tempo de caminhar pelas ruas de terra catando florzinhas em beiradas de barranco  pra ver, em seguida, o sorriso estampado no rosto de sua mãe.Tempo pra rir, quando chorando a irmã mostrava o "dentinho de leite" que acabara de cair, tempo pra correr no quintal atrás de patos e galinhas, tempo pra aguar a horta(com regador) ao entardecer, tempo pra sentar na calçada e brincar de pedrinhas, tempo de apanhar amoras e coquinhos com sua tia Teresa, tempo de decorar tabuada pra chamada oral, depois do árduo trabalho em casa de família ... tempo pra nadar no ribeirão. O dia era longo e a vida ... tão simples.
Tanto tempo ... e na maturidade perceber que nada lhe faltava, lhe sobrava ... tempo!

domingo, 11 de agosto de 2013

Morte e Vida


Amanheceu nublado. E o vento sopra meus pensamentos.Também sopra as lágrimas dos olhos órfãos de pai.
Ainda que meu pai tenha partido, ainda que falte palavras, ainda assim, preciso encontrar dentro de mim um abrigo pra saudade.
Então, pela fresta da porta, uma réstia de sol aquece meu coração.
De repente, compreendo os desígnios de Deus em cada olhar, em cada sorriso, estampados nessa imagem.
Herança de meu pai: " A esperança e a crença num mundo mais justo e mais fraterno."                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    Netos e bisnetos de Abílio Francisco                                                                                                                                                                                    


sábado, 3 de agosto de 2013

Fatos que alteram a imagem ...




Nasci ... e me criei em Piquete, onde a tranquilidade reina sempre. Desde que nasci, quase 50 anos, essa cidade também quase passou por mudanças. O lugar continua pacato, aconchegante, muitas casas construídas no morro e, no morro também fica o cemitério. Este lugar, sim,  passou por profundas e significativas mudanças.
Antigamente, ainda criança,  me recordo que minha mãe e minha tia - também madrinha de batismo - me levava para " visitar ", aos domingos, os parentes falecidos. Subíamos sem pressa o tortuoso caminho. À medida que andávamos, os túmulos iam rareando, modestos e espalhados, sem nenhuma suntuosidade. No meio do caminho, todo de terra, às vezes coberto por um mato rasteiro, a voz era a única nota viva na quietude do lugar.
Minha tia parecia orgulhar-se quando dizia: "Conheço bem muita gente que está enterrada aqui"!
Após um breve silêncio, aproximava-se mais do túmulo e lia nomes, datas de nascimento e morte. Nesse instante, juro que não me zangava e nem tinha pressa ... interessantes histórias eram contadas. Às vezes, eu mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com foto de criança. Minha tia franzia a sobrancelha para ler a lápide e como num lamento triste, murmurava com um ligeiro tremor na voz " coitadinha"!,  " coitadinha"! Tinha o choro fácil na garganta.
... Penso agora que toda a beleza do passeio estava na memória, no registro daquele que nasce, vive,  morre e deixa sua história  atravessar o mundo e abrigar em desconhecido lar.
Frequentemente somos surpreendidos por fatos que alteram a imagem que fazemos das situações vividas. E diante dos túmulos de minha mãe e de minha tia, nas raras "visitas", penso no abandono das histórias, no silêncio absoluto na leitura das lápides. Ausência de uma criança que se deixa conduzir ...                                                                                                      
 

P.S. Minha mãe faleceu em abril/1996
P.S. Minha tia faleceu em fevereiro/ 2010


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Agosto - Morte de meu pai



Agosto, mês longo, dizia meu pai. Assim como ninguém, meu pai sabia identificar o tempo e as coisas. Quase sempre acertava. Dizia sempre: “a vida ensina”, “a vida ensina”. Certamente, ensinaria a evitar pancadas e tropeções que tantas vezes a vida nos reservara.
Não tenho muitas memórias de meu pai. Tenho vagas lembranças da única viagem a Campos de Jordão, uma excursão. Lembro-me do meu pai descendo do ônibus com uma travessa de torta de frango que minha mãe fizera para nós, pois naquele momento não tínhamos dinheiro para comer em restaurante. Durante a viagem, sem muito conforto, meu pai ia perguntando se eu estava gostando. Ele sempre recorria ao bom humor para que achássemos graça no passeio e para evitar frustração, quando percebia pela nossa expressão que as coisas não iam bem.
Era sempre assim, uma mistura de alegria e tristeza, calmaria e tempestade, lágrimas e risadas, dor e aconchego. A fim de disfarçar sua emoção em meu casamento, pois minha mãe se recusara a ir, por razões que não caberiam nestas memórias, pediu-me que, logo que eu chegasse à igreja, aguentasse bravamente sua ausência, porém, ele foi o primeiro a desabar.
Lembro-me do meu pai como uma presença alegre, fazendo graça para o divertimento da criançada no corredor de nossa casa. Eu gostaria de ter sentado mais ao lado dele, no grande banco de madeira, feito por meu avô, para ouvir sempre as mesmas histórias: contava que tinha sido oferecido, por minha avó, às pessoas que iam vender coisas em sua porta, mas que sempre fugia e voltava pra casa. 
Recordo também meu pai bêbado, com bigode e sobrancelhas atrapalhados cantando uma canção, que até hoje eu canto pra minhas netas; “quando eu morrer, me enterre na caixinha, de paletó e gravatinha”. Quando bebia ficava bravo ou triste. Melhor era não ficar próximo dele.
Herdei dele o amor pelos animais. Assim como ele já criei galos, galinhas, pássaros, gatos e cachorros. E hoje em dia, muito tempo depois, sinto o mesmo prazer de cuidar dos animais e apreciar o canto dos pássaros.
Com o meu pai aprendi a gostar de levantar cedo para trabalhar, a ter compromisso com o trabalho, a gostar de ouvir músicas caipiras, a colecionar moedas , a gostar das coisas simples ...
Enfim, apesar de seu temperamento, de sua maneira de agir, era simples e sábio. Tinha aprendido com a vida.

P.S. Meu pai faleceu em Agosto/1998

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