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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

DESPEDIDA



Hoje é o último dia do ano de 2013. Ainda é madrugada, ainda deitada ouço o canto do galo. Bom relembrar que esse galo tornou-se meu vizinho neste mesmo ano, bom ressaltar que é um excelente vizinho. Nunca me incomoda, nunca. Gosto tanto desse momento, que aproveito o silêncio para refazer os percursos da minha viagem, sujeita a muitas estações, nestes 365 dias de 2013.
Foram dias entrelaçados de sol e felicidade; chuva e saudade; vento e amizade; tempestade e esperança! Um constante sim à vida, ao amor que nasce todos os dias, ao perdão e à fé que se renovam, invisíveis, como a luz que ilumina o dia.
Então, amanhã, tudo permanecerá igual: quero semear alegria, doar felicidade ao próximo, ensinar e aprender com o outro, aprender com a vida, amar gente e animais, enfim, ser cidadã e filha de Deus!

Feliz 2014!
Rosana Silva


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Batismo e o chapéu

Durante a renovação do batismo de minha afilhada Jaqueline, sexta-feira passada, minha memória insistentemente trazia à tona a recordação de um batismo, ao qual também fora madrinha. Desde o início, eu desejava batizar aquela criança.
 Naquele domingo, lembro-me claramente que acordei com os olhos verdes de esperança e a alegria no coração. Assim, extremamente feliz, fui ao encontro da minha primeira afilhada. No entanto, em minha chegada, ao olhar atentamente para minhas mãos vazias, uma onda de fúria e violenta decepção invadiram a alma daquela mãe, que aos berros dizia: Cadê o chapéu?! Você não comprou o chapéu?! Eu só pedi o chapéu e você não comprou!
Então, sem o chapéu que ela tanto sonhara pra filha, não poderia ir ao batizado, não sem o chapéu.
Segui, apesar de tudo, em direção à igreja. Ela nunca soube que a água benta do Espírito Santo misturada com minhas lágrimas jorrou com imenso amor sobre a cabeça de sua filha.
Nunca soube, pois não estava lá. Nem o chapéu!


  


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Quarto Dia





No primeiro dia,
a luz  das trevas
separou o Criador!


Um firmamento entre as águas
no segundo dia colocou
e assim fez o céu, o Criador!


Que as águas debaixo dos céus
se ajuntem num mesmo lugar,
terceiro dia: terra e mar!

Deus disse no quarto dia:
façam-se  luzeiros no firmamento
são sinais e marcam o tempo!

O sol presidiu ao dia
e a lua presidiu à noite
era, então, o quarto dia!

Também nesse mesmo dia
no céu uma estrela brilhou
e Deus viu que era bom!

Quarto dia, quarta-feira,
brilha o sol e a estrela
minhas netas tão faceiras!


Obs: Amo imensamente as quartas-feiras, pois Lavínia (Sol) e Laís (Estrela) dormem bem juntinho da vovó Rosana Silva.









terça-feira, 5 de novembro de 2013

A estação de minh'alma






Minh'alma está na primavera. No dia das almas, último 02 de novembro, alguns sentimentos ruins foram enterrados naquele cemitério. Talvez até seja devido à enorme quantidade de velas acesas no túmulo de meus pais e avós. Farei 50 anos. Tenho menos forças. Fui inexorável aos apelos da vida. Já não preciso tanto de pressa. Sei que diante de um longo caminho, sempre haverá pedras, ainda que pequenas. A vida é bela em sua essência, em seu mistério que o tempo protege. Talvez esta beleza seja a esperança chegando por aí.

sábado, 2 de novembro de 2013

Uma pedra conta a história...



Epitáfios: são frases escritas sobre túmulosmausoléus e campas cemiteriais para homenagear pessoas ali sepultadas. Normalmente, os dizeres são colocados em placas de metal ou pedras. 

Lápide ou lápida é uma pedra que contém uma inscrição (epitáfio) gravada para registrar a morte de uma pessoa, normalmente localizada sobre o túmulo ou anexa a ele. 

Uma pedra conta a história...

Nos  túmulos ou nas covas
uma pedra conta a história
perdida na memória!

Na leitura de um epitáfio
o resumo de uma vida, 
a chegada e a partida!

Tão frio quanto a pedra
o tempo seca lágrimas
e a dor que o peito traz!

Abro mão do epitáfio
homenagem descabida,
me alegrem...nesta vida!

Rosana Silva  02/11/2013














quinta-feira, 24 de outubro de 2013

ENTRE SONHOS E REALIDADES: NOSSA AMIZADE



“É preciso ler isto, não com os olhos, mas com a memória e a imaginação.” Machado de Assis

Etimologicamente, ”recordar” vem de “re” + “cordis” (coração), significando, literalmente, ”trazer de novo ao coração algo que, devido à ação do tempo, tenha ficado esquecido em algum lugar da memória”.




Naqueles tempos a vida era só alegria, aliás, alegria era comum em nossa vida. A vida corria simples, sem grandes sonhos, a não ser o de concluir os estudos.   Como era simples viver rindo à toa, sem correrias, sem deixar escapar os preciosos momentos; como naquele dia que brincamos na chuva... Aquela inesquecível CHUVA! Eu, você e seus irmãos, no caminho da Fábrica Presidente Vargas, próximo da sua casa e do meu emprego – casa da Lúcia- lembra-se? Quanta alegria! A alegria deu lugar à recordação... Somos ainda amigas; no entanto, existem tantas mudanças que parece que o tempo é outro. Estamos ocupadas demais em nossas vidas. Do meu quintal, observo a chuva, fico pensando: por que tanta distância? Isso era para ser exclusividade da morte. Sem desculpas ou possibilidades. Naquela época, naquele tempo, antigamente...  palavras que se tem ”apenas” quase meio século! Ao maravilhar-se com as lembranças do passado, alimentamos nossa alma e, de forma muito sutil, continuamos a viver. Sem dúvida minha esperança está contida nos sonhos e realidades. Contarei os dias, ansiosa, para reencontrá-la. E pretendo apenas recolher da vida algo tão valioso, que a faz mais digna de ser vivida: Nossa amizade!


“Recordo ainda” de Mário Quintana

Recordo ainda... E nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na gralharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas ai,
Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai...
Que envelheceu, um dia, de repente!...


Feliz Aniversário! Felicidades!
Amo muito você querida Josi... Josiane!

Sua amiga Rosana.

sábado, 21 de setembro de 2013

Magali

É comum que as pessoas criem símbolos espontaneamente para o local ou região onde vivem, contribuindo para o fortalecimento da identidade e da autoestima. Muitas árvores são referidas na Bíblia como símbolos, representando fertilidades, abundância,imortalidade e são consideradas símbolos do bem e do mal. O cedro, por exemplo, é sinônimo de eternidade, a cerejeira; amor e amizade, a figueira; o conhecimento. 
Assim, sendo hoje o dia da árvore, é também o seu dia querida amiga Magali.
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
Pablo Neruda




   Parabéns! Felicidades, sempre!
Sua amiga e comadre Rosana


domingo, 8 de setembro de 2013

Aprender a viver





Para aprender a viver com sinceridade é preciso conviver com as crianças. A simplicidade e o encanto de seus gestos nos traz ânimo e alegria para exercitar a função de ser sincero. Se fosse possível escolher, neste estágio da vida, gostaria de ser como elas. Pequenos gestos e elas explodem de felicidade. Poucas coisas as alimentam. Mas a verdade é que, os adultos, sempre insatisfeitos, buscam sonhos gratos nos quais, em caminhos desconhecidos, carregam pedras e levam pontapés. Porém, quanto mais o tempo passa, mais me convenço de que o homem é um quebra-cabeça. "Faltando peças."

sábado, 7 de setembro de 2013

Sol e ... Manjericão








Numa dessas manhãs ensolaradas, em que as pessoas acordam felizes e as flores mais crespas. Sinto o ar perfumado do manjericão que  impregna meu quintal. É sábado e, pela fresta da porta vejo o sol dourando os pelos avermelhados do meu vira-lata de estimação. Poderia dedicar-me a lavar roupa ou qualquer arrumação de gavetas. Porém, essa sensação de bem-estar proporcionada por acordar, após oito horas de sono reparador, ao lado de minhas netinhas, não seria desperdiçada nesta manhã, realmente belíssima.
Observo as meninas, ainda dormindo, minha cara resplandece de felicidade e adoto um ar de "dona do mundo". Com delicadezas e atenções que elas recebem com desdém, fazendo inclinações à direita e à esquerda, ofereço meu amor e a certeza de um dia mais feliz!


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Lencinho Vermelho

NOVE CHAPEUZINHOS
Flavio de Souza


NA CAPITAL DO IMPÉRIO DO BRASIL, EM 1888                                                                   LENCINHO VERMELHO  

                                                                                                                                                                  Uns diziam que a pena já estava na mão direita da princesa Isabel, filha de dom Pedro II, o imperador do Brasil. E que a escravidão ia ser abolida. Mas outros diziam que a pena vivia caindo da mão da princesa, que relutava em assinar documento tão importante. Porque a escravidão era importante para algumas pessoas importantes. No final do século XIX, na cidade do Rio de Janeiro, muitas pessoas ainda eram tratadas como se fossem inferiores. Pior que isso, eram tratadas como se não fossem pessoas. Pior ainda, eram tratadas como se fossem animais, como vacas, bois e cavalos. E só eram bem tratadas o suficiente para permanecer com saúde e poder realizar tarefas pesadas em plantações e usinas de açúcar, entre outros lugares. Esses seres humanos tinham vindo, contra a vontade, da África. Ou eram filhos ou netos de quem tinha vindo de lá, de locais que hoje se chamam Angola, Senegal, Guiné, Congo, Moçambique... Mas então, no ano de 1888, no dia 13 de maio, a princesa assinou a tal da Lei Áurea, que libertou os africanos ou filhos ou netos ou bisnetos de africanos. Só que essa liberdade só existia, para valer, no papel. Porque eles estavam do lado errado do oceano Atlântico. Porque a casa onde eles ou os pais ou avós ou bisavós deles tinham morado ficava na África. E eles estavam na América do Sul. Então eles não tinham um lar para onde voltar. Não tinham dinheiro para comprar ou alugar um lugar para morar. Não tinham emprego. Não tinham diploma. Não tinham o tipo de educação necessário para conseguir um emprego remunerado. Então a maioria deles continuou morando e trabalhando para os antigos donos. Na teoria, homens livres. Na prática, ainda escravos. Foi nesse ano e nessa cidade, que no século seguinte ganhou o apelido de "cidade maravilhosa", que esta história se passou. Bibinha acordou com as galinhas, naquela hora em que até o dia ainda está em dúvida se vai raiar. Como sempre fazia, desde quando tinha três ou quatro anos, a menina magricela e lindinha pulou da cama e logo tratou de ir à cozinha. Lá tomou um golinho do caldo de canjica que era seu primeiro café-da-manhã. Foi ao tanque, lavou a cara, bochechou, ajeitou o cabelo pixaim, penteando-o como uma coroa. Vestiu o avental, que depois segurou formando uma tendinha. Jogou nela as migalhas deixadas de lado pela dona Dita, a rainha do forno a lenha. E foi alimentar suas amigas. Quando tinha acabado de contar seu último sonho para a Ruiva, sua preferida, ouviu a mãe, que por coincidência era aquela mesma dona Dita já antes mencionada, chamá-la: "Bárbara! Venha cá buscar um embornal para levar para sua avozinha, que está doente e sozinha, depois que morreu a sinhazinha." Bibinha, mal ganhou a broa de milho que era seu segundo café-da-manhã, junto com um golinho que na verdade era bem um golão de café com leite, correu para seu cantinho. Lá, enrolou e amarrou e ajeitou seu lenço da sorte. Esse lenço era um pano tecido por aquela mesma avó já mencionada. Isso bem antes de estar como estava naquele dia: cansada e
sozinha, desde a morte da sinhazinha. Como não saía de casa sem o lenço vermelho enrolado na cabeça, muitas vezes Bibinha era chamada carinhosamente, ou nem tanto, de "Sacizinha". Porque o lenço vermelho bem que parecia mesmo o capuz de um pretinho maroto de uma perna só. Mas havia também quem a chamasse de "Lencinho Vermelho". E foi assim, vestida do pescoço para cima como saci, que saiu pelo portão dos fundos. Atravessou a horta. Pulou o muro. E foi, pirilampa, descendo a ladeira. As ruas ainda estavam escuras e vazias. Quase vazias, para dizer a verdade, porque as velhas beatas arrastavam os chinelos para assistir à primeira missa. E os pedintes, que tinham dormido pelas calçadas, se levantavam para evitar dormir atrás das grades na noite seguinte. Bibinha ia à missa também, mas só aos domingos e dias santos. Mas na imaginação da menina, os deuses, heróis, fantasmas e monstros africanos, trazidos na bagagem de seus avós, se misturavam com Jesus, Nossa Senhora e todos os santos. Ela não acreditava em nada daquilo. Mas nem por isso aquilo tudo deixava de existir. Foi assim que, justo naquela praça, onde ficavam só prédios antigos do governo, aonde os funcionários só iam chegar muito, mas muito mais tarde mesmo, que Bibinha se encontrou com o tutu marambá, um tipo de bicho-papão daqueles tempos. Esse era só um dos vários tutus que existiam, um daqueles que podiam, dançando, virar gente. Esse já tinha virado. E veio cantando, alegre, gingando. Parando na frente da menina, falou zumbindo nas palavras: "Óia quem tá vindo, e tá indo adonde?" "Tô indo visitar minha avozinha, que está magra e doente. Mas para chegar na casa dela eu ainda tenho de subir e descer dois morros." "Mas que neta de ouro, vejam só!" Bibinha não tinha como saber que aquele senhor era um tutu disfarçado. E contou a ele tudo o que tinha no balaio, embrulhado em guardanapos, do cuscuz ao doce de batata-doce. E o tutu, enquanto a menina contava, ia cantarolando uma canção. Acontece que essa canção era encantadora, de fazer as crianças ficarem com sono. E quem está com sono faz coisas que não faria se estivesse bem acordado. Foi assim que esse tutu marambá convenceu a menina a contar direitinho onde morava sua avó, que estava sozinha depois da morte da sinhazinha. Então, enquanto a menina subia e descia os dois morros que ainda faltavam para chegar na casa da avó, o tutu voava por cima, porque desta vez tinha se transformado em besouro. E ele logo chegou ao quintal da avó de Bibinha, onde a velha dormia na rede da varanda. A avó, por sinal, se chamava Bárbara, como a neta, mas era conhecida como "Nhá Bá". Mesmo adormecida, comia uma banana-da-terra e uma espiga de milho. E ao mesmo tempo pitava o cachimbinho apagado. De besouro, o tutu se transformou em pilão. E se fez grande, enorme, gigantesco. E disse: "Óia quem tá aqui, Nhá Bá!" A velhinha acordou espantada, cuspiu o cachimbo e o que de banana e de milho estava em sua boca, e gemeu: "Vixe! É um tutu marambá virado pilão enorme de grande! Ou Nhá Bá tá engomando a gola da camisola de baba, de tão doida?" O tutu não conseguiu mentir, e disse que ela não estava doida não, que ele era tudo aquilo, e que ela ia morrer naquele instante. Ela agradeceu, porque finalmente ia voltar para Ndongo, de onde tinha sido roubada. O tutu não parou para ouvir mais nada. E colocando a pobre velha dentro de si, socou a vovozinha até fazer uma paçoca apetitosa daquelas. Voltou a ser tutu, e a
engoliu com um bocado de farinha de mandioca. Depois deitou na rede, para jiboiar e esperar a menina. Bibinha chegou logo depois e já foi chamando a avó: "Vó Bá, sou eu, a Bibi!" "Vixe! E não é que é você mesmo?", disse o tutu, pensando que conseguia imitar a voz da avó, que tinha virado paçoca. "Vixe digo eu, vovozinha! Vó Bá, mas a senhora tá com voz de tutu!" "Mas não é mesmo de espantar?", perguntou o tutu. E sem mais vontade de jogar conversa fora, logo se transformou em pilão com fome de paçoca. Bibinha tinha a pele bem escura, lisinha e macia. Mas se você estivesse lá, ia ver a menina ficar branca por causa do susto que levou. E parada, esbugalhada feito um espantalho ela ficou, enquanto o tutu-pilão ia ficando grande, enorme, gigantesco. Foi então que Bibinha lembrou que tinha de cantar aquela canção que a avó cantara tantas vezes. Era só cantar a canção de ninar que o bicho-papão ia embora. Mas cadê voz? Rouquinha de tudo, Bibinha tentou soltar um arzinho que fosse, que acompanhado de palavras, mesmo que só pensadas, já iam causar o fim daquele sofrimento. O tutu marambá, que além de mau era trocista, disse rindo todo alegre para a menina: "Óia! Não fique triste não, que dentro em pouco você vai conhecer a tal de Nhangaba, a terra de onde sua avó veio." "Que Nhangaba o quê, bicho burro!?! Foi de Ndongo que ela veio!" Menina e monstro ficaram se olhando, os dois tinham percebido ao mesmo tempo que a voz da menina tinha voltado. E ele já levantou o pau do pilão em que tinha se transformado, para dar o primeiro golpe. Mas foi ficando molinho, molengo, sorumbático, porque Bibinha, lépida e ligeira, cantou assim: Tutu marambá, não venha mais cá que a mãe da criança te manda matar! Tutu marambá, não venha assustar que o pai do nenê vai te pegar! E assim aquele tutu foi se desmilingüindo, virando mingau. E de dentro dele foi saindo Nhá Bá, feito gente de novo. Só que agora ela não estava mais sozinha, coitadinha, depois da morte da sinhazinha. Porque lá estava sua netinha querida e lindinha, a Bibinha. Para quem a espantada senhora exclamou: "Vixe! Que sonho doido teve sua avó Bá! Fui de mulher a paçoca, e de bolo no estômago de papão voltei a mulher, num rápido de repente. E agora, contente, com a presença de minha criança preferida, amém!" E então aconteceu que Nhá Bá, depois de passar um paninho no chão da varanda, ainda viveu um montão. E sua neta cresceu e casou e teve filhos, e os filhos deles contaram para os filhos, que contarão aos filhos, que viverão felizes para sempre e contarão a quem quiser ouvir as aventuras de Nhá Bibi, a mulher que, quando menina, venceu o tutu marambá!


O MEDO DA INTERIORIDADE

O MEDO DA INTERIORIDADE


Esse medo ocorre principalmente com os rapazes, que são reféns de grupos que lhes oferecem um sentimento de inclusão, em que se "garantem" e se controlam uns aos outros. Pois além dos pais temerosos de que os livros levem seus filhos longe demais, além dos professores que nem sempre conseguem transmitir que ler não significa necessariamente submeter-se a um sentido imposto, além disso tudo existem os amigos. E os comportamentos de fracasso ou de rejeição à escola, ao conhecimento, à leitura, constituem uma armadura que eles confundem com virilidade, e são reforçados pelo desejo de não serem rechaçados pelo grupo. Um assistente social contou-me que no bairro em que trabalhava, quando um rapaz se sentia tentado a se aproximar dos livros, os membros de seu grupo lhe diziam: "Não vá. Você vai perder a sua força".
Freqüentemente, nos meios populares, o "intelectual" é considerado suspeito; é colocado de lado como um pária, considerado um "puxa-saco", maricas, traidor de sua classe, de suas origens etc. Muitos sociólogos e escritores têm relatado isso em diferentes países. Inclino-me a pensar que se trata de algo amplamente compartilhado, para além das fronteiras, mesmo que, naturalmente, as variações culturais sejam importantes. Darei alguns exemplos, pois é preciso conhecer muito bem essa forma
de resistência para, eventualmente, poder ajudar os jovens a contorná-la.
Acompanhemos o escritor Andrei Makine: a história se passa na Rússia; o narrador é um adolescente interno em um pensionato e que gosta muito de ler:
"A sociedade em miniatura de meus colegas me reservava, seja uma condescendência absorta (eu era um 'imaturo', não fumava e não contava histórias obscenas em que os órgãos genitais masculinos e femininos eram os principais personagens), seja uma agressividade cuja violência coletiva me deixava perplexo: eu me sentia muito pouco diferente dos outros, não acreditava que eu merecesse tanta hostilidade. É verdade que eu não me extasiava diante dos filmes que sua minissociedade comentava durante os recreios, não diferenciava um time de futebol do outro, dos quais eram torcedores fanáticos. Minha ignorância os ofendia, viam nela um desafio. Atacavam-me com suas ironias, com seus punhos".1
Acompanhemos agora o escritor Paul Smail, que descreve o pátio de recreio de uma grande escola de Paris. O narrador é de origem kabila:
"Comecei a lutar boxe aos treze anos. Estava na 8a série do Jacques-Decour [trata-se da escola] e, a cada recreio, me cobriam de socos. E na saída me tiravam tudo: meu gorro, minha jaqueta, minha mochila... Por quê? Porque eu era
1 Le Testament français, Paris, Mercure de France, 1995, p. 139.
o mais jovem, justamente, e tinha as melhores notas. Porque as meninas gostavam de mim. Porque eu lia o tempo todo. Porque não me sentia desonrado em responder quando o professor interrogava a classe. Porque um dia, o professor de francês leu minha redação para toda a classe, usando-a como modelo. Porque, como meu pai, eu achava importante falar corretamente [...]. Quando vejo no jornal da TV uma notícia sobre o genocídio que os Hutus cometeram contra os Tutsis, eu revejo o pátio da escola Jacques-Decour".2
Vejam agora os adjetivos atribuídos pelos alunos de escolas técnicas ou profissionalizantes na França, ao aluno que gosta de ler: é um "palhaço", um "pretensioso" de óculos, "filhinho (ou filhinha) de papai", um desajeitado, sem personalidade, alguém que acredita ser melhor que os outros, um doente, um tapado, um solitário, um chato etc. Como disse François de Singly, o sociólogo que comenta essa pesquisa: "Basta escutar a descrição de um aluno que gosta muito de ler feita por seus colegas de um curso de contabilidade, para entender que, se existe um jovem como este, vive escondido".3
De fato ele se esconde. O sociólogo Erving Goffman, em seu livro Stigmate, nos dá mais um exemplo, desta vez na Inglaterra, de um "bandido" que se esconde de seus conhecidos para ir à biblioteca: "Eu ia a uma biblioteca
2 Vivre me tue, Paris, Balland, 1997, pp. 26-7.
3 Les Jeunes et la lecture, Ministère de l'Éducation Nationale et de la Culture, Dossier Éducations et Formations, 24, jan. 1993, p. 124.
pública perto de onde morava e olhava para trás duas ou três vezes antes de entrar, só para estar seguro de que não havia ninguém que me conhecia nas redondezas e que poderia me ver naquele momento".4
Nos meios populares, mas não só neles, existe a idéia de que ler efeminiza o leitor. Num livro intitulado Psiu, que trata do amor pela leitura, escrito por Jean-Marie Gourio, o pai do narrador, que até então nunca havia tocado um livro, um dia compra um pequeno tratado médico. E ei-lo caminhando pelas ruas, não sabendo como carregar esse objeto insólito:
"esse pequeno livro de poucos gramas lhe pesava na extremidade do pulso e lhe deixava a nuca tensa, sendo que ainda mancava um pouco em conseqüência de seu ferimento; com seu livro, papai dava a impressão de ser um verdadeiro inválido! E logo — faltavam apenas trinta metros a percorrer — sentiu-se aliviado de poder colocar sua aquisição sobre o balcão. Parecia até que tinham lhe pedido que caminhasse de vestido e salto alto!".5
O narrador, por sua vez, que se apaixonou por uma bibliotecária e se deixa levar pelos devaneios, pelas metáforas, observa: "Antes, nunca tinham me ocorrido semelhantes excentricidades; eu mesmo teria me chamado de maricás".
4 Stigmate: les usages sociaux des handicaps, Paris, Minuit, 1975, p. 13 [ed. original: Stigma: Notes on the Management of Spoiled Identity, 1963].
5 Chut, Paris, Julliard, 1998, p. 54.
Essa associação entre o fato de se aproximar dos livros e o risco de perder a virilidade pode ocorrer diante de tudo o que é escrito e que apresenta o risco de influenciar o leitor, ainda que de forma momentânea: esses rapazes confundem deixar sua carapaça de lado por uns minutos e se precipitar num abismo de fraqueza. Mas isso fica particularmente claro no caso de leituras que têm muito a ver com a interioridade. Para os rapazes, não é fácil aceitar que haja neles um espaço vazio em que se pode acolher a voz de um outro; e esse tipo de leitura pode ser percebido, inconscientemente, como algo que os expõe ao risco de castração. A passividade e a imobilidade que a leitura parece exigir podem também ser vividas como algo angustiante. De fato, abandonar-se a um texto, deixar-se levar, deixar-se tomar pelas palavras, pressupõe talvez, para um rapaz, ter que aceitar, que assimilar seu lado feminino. Se isso é algo relativamente fácil nas classes médias ou em um meio burguês — onde existem outros modelos de virilidade, onde a cultura letrada é reconhecida como um valor —, é particularmente difícil em um meio popular, onde os rapazes se mantêm sob estreito controle mútuo.
Os conflitos socioculturais podem reforçar ou mascarar os medos mais inconscientes: esses rapazes talvez não suportem a dúvida, a sensação de carência que acompanha todo aprendizado, e se sintam perseguidos por palavras que os remetem a interrogações arcaicas, à morte, ao sexo, aos mistérios da vida, à perda.
Não esqueçamos a antiga associação entre o livro, o conhecimento e os mistérios do sexo. Encontramos, aliás, sinal disso no fato de que muitas vezes obtemos os primeiros conhecimentos sobre o sexo no dicionário. Se a curiosidade foi por muito tempo considerada um defeito, isso não deixa de ter relação com o fato de que, segundo a psicanálise, a pulsão de conhecimento se origina na curiosidade sexual da infância. De maneira mais precisa, a curiosidade consiste, num primeiro momento, em saber do que é feito o interior do corpo e, por excelência, o interior do corpo materno. Melanie Klein e James Strachey, por exemplo, mostraram que havia uma equivalência para o inconsciente entre os livros e o corpo materno. Melanie Klein escreveu: "Ler significa, para o inconsciente, tomar o conhecimento do interior do corpo da mãe [...] o medo de despojá-la é um fator importante nas inibições em relação à leitura".
Alberto Manguei também reconhece isso em sua História da leitura, quando diz:
"O medo popular do que um leitor possa fazer entre as páginas de um livro é semelhante ao medo intemporal que os homens têm do que as mulheres possam fazer em lugares secretos de seus corpos, e do que as bruxas e os alquimistas possam fazer em segredo, atrás de suas portas trancadas".
Se estou indo um pouco longe, é justamente para que sintam que a leitura não é uma atividade anódina à qual,
freqüentemente, alguns gostariam de reduzi-la. E para dizer também que é possível ajudar os jovens a superarem esses medos: por exemplo, na França, o psicoterapeuta Serge Boimare reconcilia os rapazes com a leitura apresentando-lhes mitos, contos, poesias, metáforas, que enriquecem seu imaginário, graças aos quais eles podem filtrar esses sentimentos inquietantes que a leitura e as situações de aprendizagem despertam neles e que paralisam seu pensamento. Ao ler para eles a cosmogonia de Hesíodo, os contos de Grimm ou os romances de Júlio Verne, Boimare lhes permite simbolizar fantasmas muito arcaicos. Assim, sua necessidade de controle e de domínio, sua rigidez, dão pouco a pouco espaço para movimentos psíquicos.
Alguns rapazes fazem, espontaneamente, uma escolha diferente da virilidade gregária: uma escolha pela busca de si mesmos. Fiquei particularmente surpresa com o número de rapazes que me disseram gostar de ler ou escrever poesia. Mas é claro que não comentam com seus amigos, para evitar a repressão que sofre todo aquele que é "estudioso". É o caso de Nicolas, que diz:
"Se pensamos: 'esse aí vai gozar de mim...', isso mostra como a vergonha tem um peso muito grande sobre a leitura e a escrita. São coisas reservadas para uma elite. Tenho um amigo que adora frequentar galerias de arte e com ele acontece a mesma coisa: se vai ao clube de esportes, vai guardar isso pra si, não vai falar disso com
ninguém... Abrir-se com os outros é cruel demais... A quantidade de gente que lê e que nunca fala disso é enorme".
Na realidade, nos meios populares, não é qualquer rapaz que vai seguir o caminho da leitura. Com freqüência é aquele que, por alguma razão, se diferencia do grupo. Ouçamos novamente Nicolas:
"Não acho que eu seja do tipo que fica vagando pelas ruas. Nunca me integrei ao grupo, porque não tinha a noção de grupo [...]. Foi por isso que fui obrigado a sair da escola. Dois deles me causaram problemas. Fui mais forte que eles, porém todo o grupo caiu em cima de mim, e eles eram cinqüenta pessoas. Não tive escolha: deixei a escola, deixei os amigos, eu sentia muito medo".
Vamos ouvir agora Jacques-Alain, que é um leitor assíduo: "Sempre fui um menino solitário e diferente, voltado para dentro [...]. Meus amigos eram os livros". Ou Roger, num outro contexto, o do campo. Roger é um agricultor autodidata:
"De onde me vem esse amor pelos livros? Sabe, aos vinte anos, eu caminhava pela vila, tentava passar desapercebido, não dizia bom-dia a ninguém. Eira muito tímido. Voltado para dentro. Nunca joguei futebol, detesto o bar. Gostava de andar de bicicleta, por quê? Como explicar... Não sei. De qualquer maneira, sempre gostei de ler".
Para terminar, ouçamos Richard Hoggart, um intelectual originário das classes populares inglesas, que escreveu sua autobiografia:
"Precisava descobrir algo por mim mesmo, desviar-me do caminho traçado, realizar minhas próprias descobertas, encontrar minhas próprias inspirações, fora daquilo que os professores propunham e muito além do que diziam a maior parte de meus colegas. Esse caminho passava pela biblioteca municipal...".
A individualização e a leitura caminham juntas, mas talvez a leitura pressuponha, ao menos para os rapazes, uma saída prévia do grupo, ou uma dificuldade em fazer parte dele ou, ainda, um desejo de diferenciar-se dele. E essa diferença é, em seguida, encorajada, elaborada, de maneira decisiva, pela leitura.
Vamos observar que isso pode ocorrer também, em menor proporção, para as meninas. Como ocorreu com Lea, uma jovem de dezessete anos, oriunda do Zaire, que vive na periferia parisiense: "Eles, eles andam em grupo. Eu, ao contrário, quando venho à biblioteca, venho sozinha. Prefiro fazer minhas coisas sozinha, não tenho espírito de coletividade".
Mesmo entre aqueles que frequentam bibliotecas, há alguns que só vão em grupo para fazer suas tarefas, e que nunca tomarão gosto pela leitura ou descobrirão algo por si mesmos. Enquanto há outros que algum dia irão se
aventurar sozinhos entre as estantes. Por que, então, alguns permanecem sempre colados aos outros sem que jamais lhes ocorra abrir um livro, enquanto outros traçam um caminho singular em direção à leitura? Por um lado, é uma questão de temperamento pessoal; por outro, existe o pressuposto de que o jovem usuário de uma biblioteca tenha uma autonomia que, na realidade, espera-se que tanto a leitura como a biblioteca ajudem a construir. Porém, elas podem apenas encorajar, contribuir para isso. Se a leitura e a biblioteca ajudam muito quem tem vontade de mudar, de se tornar diferente, de "desviar do caminho traçado", isso é muito mais incerto para quem está pouco seguro desse desejo.
Dizendo de outra forma, a leitura pode reforçar a autonomia, mas o fato de alguém se entregar a ela já pressupõe uma certa autonomia. A leitura ajuda a pessoa a se construir, mas pressupõe, talvez, que ela já tenha se construído o suficiente e que suporte ficar a sós, confrontada consigo mesma. Em termos psicanalíticos, a leitura ajuda a elaborar a "transicionalidade", para usar a expressão de Winnicott, porém pressupõe que se tenha tido acesso a essa transicionalidade, que se tenha saído do estado da "fusão".
Para ler livros e, mais ainda, para ler literatura — que é algo que perturba, que põe em questão a segurança, as relações de pertencimento —, é necessária uma estruturação mínima do sujeito? Que margem de manobra dispomos para atrair as pessoas para a leitura, jovens ou menos jovens, que necessitam de uma identidade feita de
concreto armado (pela falta de uma verdadeira segurança em relação à identidade)? Não sei, seria preciso refletir mais sobre isso com psicanalistas e psicólogos.
Se não se pode trabalhar nesse sentido, então teremos, na maior parte do tempo, dois caminhos: alguns vão escolher o espírito de grupo viril, e terão medo do encontro consigo mesmo que a leitura implica, medo da alteração que ela acarreta e da carência que ela pode significar; e outros vão escolher um caminho singular. Evidentemente, um homem que não tem medo de sua própria sensibilidade me parece muito mais maduro, mais humano, que aqueles que se deslocam em hordas, alardeando ruidosamente a força de seus músculos. Não escondo minha preocupação ao observar que na França, segundo pesquisas recentes, a divisão entre rapazes e moças tem se acentuado no que toca à leitura: três quartos dos leitores de romances hoje em dia são leitoras. Então, o que fazer para que os rapazes tenham menos medo da interioridade, da sensibilidade?
Como lhes transmitir, em particular, a experiência de outros homens que nela encontraram dimensões infinitamente desejáveis? Como o escritor Jean-Louis Baudry, que escreveu um belo texto sobre sua relação com a leitura — e com as mulheres —, do qual extraio algumas frases:
"A leitura me parecia uma atividade especificamente destinada às mulheres, como, por exemplo, a dança. Os homens só participavam dela na medida em que esta os conduzia mais diretamente às mulheres. Ler um livro era
se fazer de cavalheiro a serviço dos prazeres de sua dama, que eram, antes de tudo, prazeres de expressão. A leitura era tão feminina que feminilizava aqueles que, como meu pai, entregavam-se a ela. Feminilizava-os a ponto de torná-los capazes de refletir a luz dessas virtudes que as mulheres resplandeciam, virtudes associadas ao exercício e ao domínio da linguagem: inteligência, sutileza, fineza, imaginação, e o dom que elas pareciam possuir de enxergar além das aparências. Mas sobretudo, e talvez um pouco paradoxalmente, a leitura constituía um dos atributos da autonomia que eu lhes atribuía".
Uma vez mais, a leitura se vê associada às mulheres. Mas, para esse escritor, longe de torná-la desprezível, ao contrário, é o que constitui seu encanto, seu atrativo.
Eis aí, portanto, um certo número de "materiais" sobre o medo em relação ao livro. Eu os levei a passear por muitos lugares — dos campos franceses às margens da Arábia, dos fantasmas arcaicos às plantações escravagistas, e imagino que já devam estar mareados. Assim, sem ter a pretensão de dizer a última palavra sobre tudo isso, pois a questão é imensa e permanece aberta, o que podemos observar se nos esforçarmos em recapitular um pouco? Haverá algo em comum, claro que em graus muito diferentes, entre os fundamentalistas religiosos, os rapazes preocupados com a perda de sua virilidade, os pais que temem perder o controle sobre seus filhos etc. Etc.?
Talvez seja o temor de perder o domínio sobre algo. O medo de se ver confrontado com a carência, com a pluralidade de sentidos, com a contradição, a alteridade, de se perceber múltiplo. O medo de ver a identidade desmoronar, quando esta é vista como algo monolítico, imutável, total. Ou talvez seja, ao menos, a dificuldade de passar de um modo em que a identidade é vivida como uma entidade fixa, preservada por um alto grau de oclusão diante do outro, para um modo no qual a identidade é concebida mais como um processo, um movimento, e o outro é visto como uma possibilidade de enriquecimento.
Aquele que fica à distância dos livros teme perder alguma coisa, enquanto o que se aproxima deles sente que tem algo a ganhar. O primeiro teme se confrontar com uma carência, que tenta negar com todas as suas forças. O segundo acredita que, por meio dos livros, e em particular da literatura, poderá, ao contrário, apaziguar seus medos. E o que diz o escritor italiano Alessandro Baricco:
"A literatura deve ser um meio para que possamos enfrentar a tristeza da realidade, os nossos medos e o silêncio. Ela deve tentar pronunciar palavras, pois temos medo do desconhecido e do inominável. Acredito que todas as histórias — tanto as minhas como as de outros escritores — são apenas elaborações linguísticas complexas que tentam dar um nome a nossas feridas, a nossos medos, tornando-os, deste modo, menos assustadores. É o imenso valor ético e civil das narrações
[...]. Se muitas pessoas leem meus livros, é porque sentem, como eu, medo da realidade, ainda que não tenham consciência disso. [...] Se conhecemos o que nos assusta, podemos enfrentá-lo. Nomear é conhecer. Portanto, os escritores nos ajudam a dominar nossos medos. Pessoalmente, prefiro a dominação das narrações à dominação exercida pela ciência, a filosofia ou a religião. No filósofo, no erudito ou no padre, há sempre uma espécie de autoridade que não se encontra no escritor".6
Além do mais, quem evita os livros vê neles algo de desencorajador, de austero, distante da vida. Enquanto o leitor sabe que eles podem ser uma fonte de infinito prazer. E para dar um pouco mais de leveza, gostaria de dizer que aqueles que tiveram acesso aos livros evocam, antes de tudo, o prazer de ler. Darei a palavra a eles antes de continuar a percorrer os caminhos pelos quais nos tornamos leitores.
Alguns falam da leitura como um exercício vital ("se a pessoa não lê, morre; ler alimenta a vida"), ou como uma história de amor, de amor à primeira vista. Estes se deixam tocar, invadir pelo texto, se entregam a suas aventuras, se abandonam à alteração: "Kundera mudou minha maneira de ler", conta-nos uma jovem.
6 Magazine Littêraire, fev. 1998, p. 81.
"Eu o reli e dessa vez ele me transformou completamente. Deixei de me perguntar o que pensava, ou sobre o que estava ou não de acordo; ele me surpreendia, às vezes me chocava, e a partir disso se deu uma nova descoberta da leitura e dos livros. Já não se tratava de autores e de idéias que podiam me agradar, mas sim do fato de que podiam me trazer algo de diferente".
A leitura pode ser um caso de paixão que não espera, como ocorre com essa mulher, mãe de três filhos, que diz: "Se é realmente apaixonante, me envolvo e não importa que meus filhos gritem, tenham fome, não tem problema: preparo-lhes um ovo frito e volto correndo para minha leitura". E aqueles que amam ler encontram caminhos alternativos que lhes permitem entregar-se a essa paixão, como este agricultor:
"Você sabe, eu e minha mulher tivemos sete filhos; isso é algo que realmente mantém uma pessoa ocupada. Minha esposa ajudava na igreja, ensinava o catecismo. Sempre encontramos um jeito de dividir o trabalho, nós nos virávamos. Então, não me venha com essa história de 'não tenho tempo'. Isso não existe. Quando queremos nos organizar, nós conseguimos".
Para essas pessoas, o gosto pela leitura toma muitas vezes a forma de uma incorporação ávida, de uma questão oral. Vejamos algumas expressões que apareceram nas
entrevistas: "ler até ficar saciado", "devorei tudo", "saboreei", "é como uma guloseima", "é algo saboroso, saboroso", "queria saborear tudo", "têm aqueles que assaltam a geladeira, eu assalto a biblioteca" etc. Com muita freqüência, a intensa necessidade de leitura, a incapacidade de liberar-se dela, faz com que seja comparada a uma droga. Como diz essa mulher: "Os livros são como uma droga. Se não lemos, podemos morrer. Meu marido leu toneladas de livros, leu todas as bibliotecas da cidade, sempre leu e continua lendo o tempo todo. E uma doença. Lia até enquanto comia, não fazia outra coisa".


http://efp-ava.cursos.educacao.sp.gov.br/Resource/601469,A74/Assets/lingport/pdf/mgme_lingport_m3t17.pdf

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Um sonho de ser gaúcha-tchê!!


Certo ano de 2002, talvez em julho, recebo a notícia de minha comadre que acabava de realizar um sonho!
" Estou morando no Rio Grande do Sul!"; e, muito feliz!
Acabara de passar por situações muito difíceis: deixara o filho que tanto amava ou melhor ..." abriu mão", conforme relato.
Ah! Amada amiga , como sofri contigo! E chorei, sim , admito que não pude suportar!
" Só o tempo pode nos mostrar certas coisas" "... e eu consegui ter paciência para esperar"   " quero que você aprenda com a experiência dos mais velhos" " procure tirar proveito para sua vida"  " observe e analise as experiências das pessoas que te cercam". Então, minha querida, apesar do longo tempo, reconhece tais conselhos direcionados pra sua afilhada?
Sim, o tempo passou... e, com ele seus conselhos deram excelentes frutos! Você foi, à distância, a melhor madrinha, a melhor amiga que pude escolher!
Amo você, amo sua família( também à distância), sempre... para a vida inteira!
Enquanto houver memória, escrita e... coração,tudo será registrado!


Para sempre, com amor e grande admiração: Rosana





terça-feira, 3 de setembro de 2013

Estrelinha da manhã


Naquele ano, porém, me dediquei  a esperar alguém bem especial. No mês de minhas férias escolares, janeiro de 2007, em algumas circunstâncias, fervilhavam os pensamentos. Não tinha sido imaginação, sonho.
Sem o menor sinal de angústia, parecia que a única coisa que interessava no mundo, era o mês de Agosto.   E, quase sem se dar conta de que a felicidade estava a caminho, o tempo se  transformava em pretexto pra buscarmos por afinidades apenas.
Eu confesso que, ambas encontramos nobres razões pra estarmos lado a lado, sempre!  Era como se, de repente, uma réstia
de sol, extraordinariamente, iluminasse nossos corações!

 Lavínia, luz do sol!
 Estrelinha da manhã,
Vaga-lume e girassol!

18/08/2007     Minha netinha Lavínia
                       Feliz aniversário!    
                       Vovó te ama muito!!




sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Hai-Kai - A menina Laís

O Hai-Kai é um poema breve, de origem japonesa, frequentemente irônico.




A menina  Laís
É uma boneca
Com vida.

A menina  Laís
Escondida da luz
Nasceu pra brilhar!

A menina  Laís
Guardada na bolsa
Da mãe Canguru!

A menina  Laís
Escapou por um triz
E me faz tão feliz!

A menina  Laís
Conquistou dois amores:
Amadeu e o mar!


Feliz aniversário! Vovó (poeta) te ama do tamanho do ... infinito!!!
31/08/2013

Encontro com o essencial






Dentre vestes e disfarces ignoramos o essencial. Aparentemente insignificantes, as coisas necessárias vão se afastando da gente, falta  atenção, para ver o que realmente importa.
Num tempo em que a pressa era inimiga, tinha tempo de caminhar pelas ruas de terra catando florzinhas em beiradas de barranco  pra ver, em seguida, o sorriso estampado no rosto de sua mãe.Tempo pra rir, quando chorando a irmã mostrava o "dentinho de leite" que acabara de cair, tempo pra correr no quintal atrás de patos e galinhas, tempo pra aguar a horta(com regador) ao entardecer, tempo pra sentar na calçada e brincar de pedrinhas, tempo de apanhar amoras e coquinhos com sua tia Teresa, tempo de decorar tabuada pra chamada oral, depois do árduo trabalho em casa de família ... tempo pra nadar no ribeirão. O dia era longo e a vida ... tão simples.
Tanto tempo ... e na maturidade perceber que nada lhe faltava, lhe sobrava ... tempo!

domingo, 11 de agosto de 2013

Morte e Vida


Amanheceu nublado. E o vento sopra meus pensamentos.Também sopra as lágrimas dos olhos órfãos de pai.
Ainda que meu pai tenha partido, ainda que falte palavras, ainda assim, preciso encontrar dentro de mim um abrigo pra saudade.
Então, pela fresta da porta, uma réstia de sol aquece meu coração.
De repente, compreendo os desígnios de Deus em cada olhar, em cada sorriso, estampados nessa imagem.
Herança de meu pai: " A esperança e a crença num mundo mais justo e mais fraterno."                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    Netos e bisnetos de Abílio Francisco                                                                                                                                                                                    


sábado, 3 de agosto de 2013

Fatos que alteram a imagem ...




Nasci ... e me criei em Piquete, onde a tranquilidade reina sempre. Desde que nasci, quase 50 anos, essa cidade também quase passou por mudanças. O lugar continua pacato, aconchegante, muitas casas construídas no morro e, no morro também fica o cemitério. Este lugar, sim,  passou por profundas e significativas mudanças.
Antigamente, ainda criança,  me recordo que minha mãe e minha tia - também madrinha de batismo - me levava para " visitar ", aos domingos, os parentes falecidos. Subíamos sem pressa o tortuoso caminho. À medida que andávamos, os túmulos iam rareando, modestos e espalhados, sem nenhuma suntuosidade. No meio do caminho, todo de terra, às vezes coberto por um mato rasteiro, a voz era a única nota viva na quietude do lugar.
Minha tia parecia orgulhar-se quando dizia: "Conheço bem muita gente que está enterrada aqui"!
Após um breve silêncio, aproximava-se mais do túmulo e lia nomes, datas de nascimento e morte. Nesse instante, juro que não me zangava e nem tinha pressa ... interessantes histórias eram contadas. Às vezes, eu mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com foto de criança. Minha tia franzia a sobrancelha para ler a lápide e como num lamento triste, murmurava com um ligeiro tremor na voz " coitadinha"!,  " coitadinha"! Tinha o choro fácil na garganta.
... Penso agora que toda a beleza do passeio estava na memória, no registro daquele que nasce, vive,  morre e deixa sua história  atravessar o mundo e abrigar em desconhecido lar.
Frequentemente somos surpreendidos por fatos que alteram a imagem que fazemos das situações vividas. E diante dos túmulos de minha mãe e de minha tia, nas raras "visitas", penso no abandono das histórias, no silêncio absoluto na leitura das lápides. Ausência de uma criança que se deixa conduzir ...                                                                                                      
 

P.S. Minha mãe faleceu em abril/1996
P.S. Minha tia faleceu em fevereiro/ 2010


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Agosto - Morte de meu pai



Agosto, mês longo, dizia meu pai. Assim como ninguém, meu pai sabia identificar o tempo e as coisas. Quase sempre acertava. Dizia sempre: “a vida ensina”, “a vida ensina”. Certamente, ensinaria a evitar pancadas e tropeções que tantas vezes a vida nos reservara.
Não tenho muitas memórias de meu pai. Tenho vagas lembranças da única viagem a Campos de Jordão, uma excursão. Lembro-me do meu pai descendo do ônibus com uma travessa de torta de frango que minha mãe fizera para nós, pois naquele momento não tínhamos dinheiro para comer em restaurante. Durante a viagem, sem muito conforto, meu pai ia perguntando se eu estava gostando. Ele sempre recorria ao bom humor para que achássemos graça no passeio e para evitar frustração, quando percebia pela nossa expressão que as coisas não iam bem.
Era sempre assim, uma mistura de alegria e tristeza, calmaria e tempestade, lágrimas e risadas, dor e aconchego. A fim de disfarçar sua emoção em meu casamento, pois minha mãe se recusara a ir, por razões que não caberiam nestas memórias, pediu-me que, logo que eu chegasse à igreja, aguentasse bravamente sua ausência, porém, ele foi o primeiro a desabar.
Lembro-me do meu pai como uma presença alegre, fazendo graça para o divertimento da criançada no corredor de nossa casa. Eu gostaria de ter sentado mais ao lado dele, no grande banco de madeira, feito por meu avô, para ouvir sempre as mesmas histórias: contava que tinha sido oferecido, por minha avó, às pessoas que iam vender coisas em sua porta, mas que sempre fugia e voltava pra casa. 
Recordo também meu pai bêbado, com bigode e sobrancelhas atrapalhados cantando uma canção, que até hoje eu canto pra minhas netas; “quando eu morrer, me enterre na caixinha, de paletó e gravatinha”. Quando bebia ficava bravo ou triste. Melhor era não ficar próximo dele.
Herdei dele o amor pelos animais. Assim como ele já criei galos, galinhas, pássaros, gatos e cachorros. E hoje em dia, muito tempo depois, sinto o mesmo prazer de cuidar dos animais e apreciar o canto dos pássaros.
Com o meu pai aprendi a gostar de levantar cedo para trabalhar, a ter compromisso com o trabalho, a gostar de ouvir músicas caipiras, a colecionar moedas , a gostar das coisas simples ...
Enfim, apesar de seu temperamento, de sua maneira de agir, era simples e sábio. Tinha aprendido com a vida.

P.S. Meu pai faleceu em Agosto/1998

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segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Canto do Galo





             Inconscientemente,  a casa rosa, única de alvenaria,  jamais seria esquecida por aquela menina que à sua  maneira brincava naquele chão de terra vermelha, varrido todas manhãs com vassoura de "mato", que sua avó amarrava com cipó. Havia naquele quintal uma casinha de pau-a-pique tão limpinha e coberta de sapé, com um fogão à lenha que aquecia tanto a alma quanto as panelas de ferro.
           Madrugadeira, sua avó dizia que acordava com o canto do galo. Em seguida, ia pegar água na bica pra fazer o café da manhã. Enchia as garrafas, arrumava as marmitas e ajeitava tudo no "emborná".
           O destino do casal era a roça, acompanhado pelos vira-latas "Neguinho" e "Vinagre" que estavam sempre deitados no degrau da casa rosa.
          Quando o dia chegava ao fim, a noite trazia a magia com a luz escassa e amarelada da lamparina, o pisca-pisca dos vaga-lumes e o coaxar ininterrupto dos sapos. Aquele quintal era cheio de vida, de sons e de cores que insistem em minha memória.

Laços de antepassados



Com a mudança de um novo vizinho em frente à minha casa veio à tona lembranças tão distantes, que jamais ousaria recordá-las não fosse a interminável cantoria desse galo que pertence, é claro, ao novo vizinho.
A casa era rosa, parecia imensa, única de alvenaria naquele bairro. Uma menina corria alegremente naquele chão de terra vermelha, enquanto seu avô varria as folhas e miúdas flores caídas no degrau da casa. Em seguida, ele sentava nesse mesmo degrau, tirava do bolso um canivete, desenrolava um lenço malcheiroso, pegava o fumo de rolo e passava horas e horas cortando bem fininho aquele pedaço de fumo.
Sua  avó chegava de mansinho, trazendo na caneca de alumínio, o café que acabara de passar no coador de pano. " Zé, cadê a palha? '' Sem falar nada, retirava de uma lata enferrujada dois pedaços de palha bem cortados e entregava a ela, que enrolava o fumo e fazia os cigarros. Quase sem diálogo, o casal acendia os ''paeiros ",  a menina parava de correr, sentava e  rabiscava o chão.
Silêncio. Ausência. Abandono.
Ah!  ...o  galo!? Que importa?



Rosana Silva

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Efeitos da pregação de Francisco na rede social

'' Não trago ouro nem prata, mas lhes trago o que de mais valioso me foi dado: Jesus Cristo."    Papa Francisco


O trigo do Evangelho é a palavra de Deus; os espinhos, as pedras, os caminhos e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos estados do coração do homem. O Papa Francisco semeou o trigo em sua passagem em nosso Vale do Paraíba, que é a palavra de Deus.
O pontífice lançou a rede, mas não aquela dos apóstolos pescadores, ( Mt. 4,19). Refez Francisco a sua rede: do fio e do nó de ações rápidas, claras, distintas e... modernas! A rede social que também  havia de pescar homens!





" Se Cristo bota fé nos jovens, o Papa Francisco aposta nas redes sociais para levar a Palavra de Deus à juventude. Desde que assumiu o papado, o pontífice se tornou uma representação de mudanças e modernidade à frente da Igreja. E um de seus maiores aliados nessa missão de cativar novos e antigos cristãos é, justamente, o uso bastante frequente da internet e redes sociais."http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/07/papa-francisco-bota-fe-nos-jovens-e-nas-redes-sociais.html


terça-feira, 23 de julho de 2013

Reflexões sobre as formas de conhecermos novos lugares




www.restaurantevernissage.blogspot.com



Em suas idas e vindas, você trouxe verdadeiras reflexões sobre as formas de conhecer novos lugares. Suas viagens pelo Brasil, Alemanha, Chile, Estados Unidos revelam através
de seus registros ( imagens, vídeos e e-mails) que podemos viver grandes transformações na experiência de se viajar. Fica evidente seus sentimentos mais profundos com o passar do tempo e da distância.
Não por acaso, você é uma viajante que busca conhecer gente e lugares, desenvolvendo com eles uma relação de afeto, encanto e algumas vezes "compaixão."
Essas viagens, é bom ressaltar, não pertencem somente a você, elas são formas de meditação, de interação entre o passado e o futuro. São relatos autobiográficos, são crônicas de viagens, são poemas escritos nas chorosas despedidas, com lágrimas que continuam a ser derramadas, mesmo quando o avião já se encontra muito distante.
Mas, a diferença que você aponta é tão profunda quanto seus registros: trata-se da existência de diferentes formas de viver, nem sempre alegre, porém intensa,  de estar mais aberto para se encontrar com outras pessoas, de comprimir-se na multidão, de acostumar-se com as horas perdidas nas mudanças de fuso horário, na observação dos caminhos visitados, nas fadigadas - ou não - noites mal dormidas, na busca pelo alimento que sacia a fome, mas não a saudade, no vocabulário limitado ou com notável fluidez, na contagem dos dias e, na ansiedade, fruto da pressa, pelo ponto de chegada!
Entretanto, você traz em suas malas, além de suas compras, a recompensa mais preciosa - o autoconhecimento. É ele que permite encontros profundos, mesmo que fugazes, entre pessoas que não se conheciam. Unem-se, assim, uma forma de se relacionar com o tempo, lugares, coisas e pessoas.

Dedico essa crônica a uma viajante especial,

Com carinho,


 Rosana Silva

Casamento - Adélia Prado






Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.

sábado, 6 de julho de 2013

A indesejada visita


   Tenho quase  cinquenta anos. Esse envelhecimento foi rápido.Tão rápido que posso sentir na pele  a aspereza do tempo. Então, decidi escrever, anotar alguns fatos para recordar quando a memória não mais permitir ou para criar laços com a escrita. Decisão," resolução tomada após julgamento; livre escolha; opção", segundo o dicionário "Houaiss". Decidi muito cedo quase tudo em minha vida." Trabalhar" por exemplo, tinha quase dez anos e um corpo tão franzino, que achei que não suportaria. Suportei. Este e tantos outros trabalhos que viriam pela frente!
Também suportei por três vezes a indesejada visita, na sala da antiga casa, levar pra cobrir de terra  e esquecimento: o irmão, a mãe e o pai.                                                                                                                              Meu sofrimento extravasou o tempo..

Afastei as pedras do caminho e, me fiz cheia de encanto pela vida e pelos mistérios de Deus!



sábado, 29 de junho de 2013

O tempo passa... o amor é para sempre.

O aniversário é seu, mas a felicidade é minha!! Pois nestes quase 49 anos de minha existência, é você que tem me proporcionado muitas alegrias e inesquecíveis momentos. Aliás, vou relembrar alguns pra você:
Na infância, deve ter sido muitos, porém minha memória não é tão boa assim. Mas, vejamos à partir de sua adolescência:  Em 2000, quando você passou no Cotel, como você economizava na cantina, heim!! Tudo para me poupar:  de gastos e preocupações. O tempo passou e,  você ...na melhor Faculdade do País em janeiro de 2003!
Assim, ...como tudo passa, em julho de 2003, você começou seu estágio na Basf:  pra você a melhor empresa, a  qual  sempre sonhou!! E, então, você também passou por muitos estágios da vida, até chegar onde está! E, neste mesmo ano, você passou em todas as disciplinas na faculdade, sem ficar de exame de nenhuma matéria!
O tempo passou ...e,  em junho de 2006, fomos conhecer a Basf . Pude compreender  seu encantamento pelo seu trabalho.
E, no devido  tempo, ... Deus  trouxe de muiito  longe, em agosto de 2006, alguém bem especial, que você não sabia, mas seria, alguém que passaria muiito tempo com você!
Em março de 2009, no Colégio Adventista, em Guará e naquele maravilhoso baile, você comemoraria, ao lado de pessoas queridas, a sua tão merecida conquista: a formatura de uma dedicada aluna de  Engenharia Química!
Assim, ... o tempo traria com a folia, em fevereiro de 2011, o melhor enredo para seu carnaval,  seu casamento com Odair, "Deja" para os foliões da faculdade!
Enfim, Marcella, ao longo do tempo, você não só entregou seus sentimentos, mas também sua dedicação intensa  a tudo que me diz respeito. Obrigada, por tornar minha vida mais alegre, mais culta -"todas as peças de teatro, todos os passeios culturais, todos os lugares elegantes ( que eu conhecia somente  pelos livros), musicais - e, tudo que me faz sonhar com as memórias estrangeiras de suas viagens!
Te amo intensamente... O tempo passa...o "meu" amor é para sempre!
Com amor...mãe Rosana
P.S.  Obrigada, por tudo!!!
 " Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado." Lucas,6.34

sábado, 15 de junho de 2013

Superação e Sabedoria







A minha experiência com leitura se deu por volta dos meus quatro anos de idade quando entrei para o "Jardim da Infância" e a professora trazia vários livros de histórias, Chapeuzinho Vermelho, Os três porquinhos e outros clássicos da literatura infantil. Também me lembro que adorava quando a noite se aproximava e minha mãe me contava as maravilhosas histórias da Bíblia. Entre reis, rainhas e e lutas eu era Davi jogando a pedra em Golias em meus sonhos. Aos seis anos  já era alfabetizado e dominava a leitura e escrita. Assim, quando ia ao açougue para minha mãe, desembrulhava a carne e ia lendo pelo caminho as notícias. Quando era sobre futebol, ficava torcendo pra saber sobre o Santos, meu time de coração, às vezes até rasgava o jornal e minha mãe ficava brava comigo. Entretanto, aos nove anos perdi a visão e, tudo ...tudo ficou difícil em relação à leitura e a escrita. Então, fiquei afastado da escola por aproximadamente quatro longos anos. Mas nem tudo estava perdido, a luz viria com a chegada de uma estudante de psicologia, que assim como eu, era cega. Me alfabetizou novamente no método Braille e assim pude voltar à escola, retomar meus estudos. Nesse período, alguém muito especial, dona Hilda, professora de português, reavivou em mim o interesse pela leitura, trazendo para a sala de aula os clássicos da nossa literatura. E comigo ela tinha um cuidado muito especial, pois antes de propor a leitura, verificava se havia aquele livro em braille. Atualmente pela carência de materiais em braille, busco outras alternativas como livros e revistas em áudio, dentro do possível. E ficaria muito feliz se essas obras especiais fossem produzidas em maior quantidade, pois facilitaria minha vida gerando independência na busca do prazer pela leitura.
Prof. Rudnei Pinto de Freitas

Recordações...

Recordações da Infância ... lembro-me das inúmeras vezes que me trancava no banheiro, que era usado somente por empregados, para ler furtivamente o mesmo livro de minha patroa, uma professora da mesma escola em que eu cursava o fundamental. Aliás, foi assim e, com essa professora que me apaixonei pela leitura, ainda criança, pois tinha lá meus quase onze anos. É, isso mesmo, eu já trabalhava com essa idade. Naquela época, mal alcançava na pia, mas lavava toda a louça rapidamente e, em seguida corria em busca do livro, que certamente eu encontraria no mesmo lugar à minha espera. Isso aconteceu por muiiiito tempo, pois foram quase oito anos que trabalhei lá, com a diferença que já não lia mais escondida no banheiro. Podia ler livremente, sentada na mesma poltrona de minha patroa.
Profª. Rosana Aparecida da Silva